Poesia / Mata-Borrão

14-08-2014 20:26

Mata-borrão

 

Andava eu a escrever

Sozinho deitado ao chão,

Tentando meu mundo prever

A pensar em tudo que sou

Das dores e mágoas que mo sobrou

Olhava ao relento meu mata-borrão!

 

Escrevinhava meu mundo a lápis,

Matava-me a dor, meu coração;

Das velhas parolas escrita a giz,

Minha poesia era minh’alma;

Mas em tudo mantive minh’calma,

Na tinta manchada do mata-borrão!

 

Sou eu um anacrônico ser vivente

Desde um poeta rumando à paixão,

Deste mundo fiz-me um tanto diferente

Desta minha vida fiz-lha de meu sonho,

Nesse meu vetusto chorar de tom risonho

 Faço a prédica de meu bom mata-borrão!

 

Mata-me a dor, mas morrer não morro,

Perco-me absorto nesta doce, minh’ilusão,

Deste meu mundo eu fujo, dele mui corro,

Como um audaz vivo meu engano

Como um bom poeta somente amo,

A ilusão é simplesmente meu mata-borrão!

 

Poetarei sim! Poetarei e mais poetarei!

Serei eu mesmo! Não uma imensidão...

Escrevinharei tudo que bem eu sei,

Farei a bela de minh’vida à pena valer

Viverei meu fugaz dia a pleno viver...

Enxugar-te-ei tinta minha no mata-borrão!

 

Estou a correr e mo não perco ao léu

Estou a andar na retilínea contramão

Paro a olhar a obliquidade do bel’céu

Sonho acordado feito um viajante,

Perco-me deveres sempre ao instante

Que desato a mirar àquele mata-borrão!

 

Leandro Yossef

XIV/VIII/MMXIV