Poesia / Mata-Borrão
Mata-borrão
Andava eu a escrever
Sozinho deitado ao chão,
Tentando meu mundo prever
A pensar em tudo que sou
Das dores e mágoas que mo sobrou
Olhava ao relento meu mata-borrão!
Escrevinhava meu mundo a lápis,
Matava-me a dor, meu coração;
Das velhas parolas escrita a giz,
Minha poesia era minh’alma;
Mas em tudo mantive minh’calma,
Na tinta manchada do mata-borrão!
Sou eu um anacrônico ser vivente
Desde um poeta rumando à paixão,
Deste mundo fiz-me um tanto diferente
Desta minha vida fiz-lha de meu sonho,
Nesse meu vetusto chorar de tom risonho
Faço a prédica de meu bom mata-borrão!
Mata-me a dor, mas morrer não morro,
Perco-me absorto nesta doce, minh’ilusão,
Deste meu mundo eu fujo, dele mui corro,
Como um audaz vivo meu engano
Como um bom poeta somente amo,
A ilusão é simplesmente meu mata-borrão!
Poetarei sim! Poetarei e mais poetarei!
Serei eu mesmo! Não uma imensidão...
Escrevinharei tudo que bem eu sei,
Farei a bela de minh’vida à pena valer
Viverei meu fugaz dia a pleno viver...
Enxugar-te-ei tinta minha no mata-borrão!
Estou a correr e mo não perco ao léu
Estou a andar na retilínea contramão
Paro a olhar a obliquidade do bel’céu
Sonho acordado feito um viajante,
Perco-me deveres sempre ao instante
Que desato a mirar àquele mata-borrão!
Leandro Yossef
XIV/VIII/MMXIV