Mini Conto / Vicissitude

24/03/2013 19:08

Vicissitude

Em uma ínfima vicissitude eu encontrei meu grande amor, deveras, eu a procurava há muito tempo, pois bem, irei me apresentar a vós.

Sou eu um parco romanesco com ideais retrógrados sobre o amor, sempre sonhei em encontrar a pessoa certa na minha vida, mas, já havia algum tempo que eu deixara de buscar tal cousa. Foi quando algo aconteceu de revés, vou conta-lhes, não em todas as minúcias e nuances, mas sim um pouco do que aconteceu de forma sucinta não quero ser prolixo.

Estava eu indo ao meu trabalho, pois, trabalho próximo ao centro da cidade, opa! Eu esqueci um parco detalhe, não me apresentei corretamente, então vamos lá, eu me chamo Thiago Santos e tenho a idade de vinte e quatro anos, sou um pouco crasso, obtuso deveras tosco em meu jeito de ver as cousas, tenho uma visão totalmente oblíqua ao censo comum, tenho princípios e tenho o maior desvelo em cumpri-los, eu vejo a donzela a mulher como uma pedra preciosa, como uma princesa que merece ser amada com muito esmero e acima de tudo ela deve ser respeitada e honrada, sou austero e inexorável em tais intentos, mas a maioria das pessoas (Homens e mulheres também) não vêm à mulher do mesmo jeito que eu, deveras algumas mulheres se rebaixam a ínfimos objetos e vivem uma vida de promiscuidades dantescas, mas cada um faz o que quer de sua efêmera vida.

Eu então resolvi esperar uma pessoa que pensasse igual ou pelo menos parecido com que penso, entre tantas e tantas quimeras, resolvi postergar tais desígnios e ficar só, pois, já dizia o adágio popular “antes só do que mal acompanhado”, e então me pus a viver só, tinha como amigo minha parca caneta e um ínfimo pedaço de papel rabiscado em ambos os lados, onde eu havia lançado todas os devaneios utópicos de minha parva imaginação e de meus quiméricos sonhos, e assim os dias foram passando e cada vez mais eu me afastava daqueles sonhos poéticos de outrora, mas, sempre quando eu via um casal de namorados felizes a passear, com gestos faceiros airosos que só quem ama pode o fazer, até mesmo um singelo balançar as mãos dadas ao vento se torna poesia aos olhos do romanesco. Eu ficava absorto e ficava perdido em solilóquios pacóvios e no final sempre descambava a copiosas lágrimas que muitas das vezes não eram externadas, com as imagens vivas na mente ia eu escrever, escrevia meus versos com tanta melancolia que às vezes eu mesmo não entendia, pois, lá no fundo no âmago eu queria um amor que viesse a mudar a minha fugaz vida, queria alguém que me amasse, que me ouvisse, que me entendesse, mas, lutava eu contra tais sentimentos, eu achava que nunca encontraria um alguém tão especial que viesse mudar meu jeito de ser e pensar, eu era deveras um poeta que não aprendera a amar, um poeta postergado, obliterado pelos sofrimentos que a poética o havia submetido, então eu não sabia muita cousa sobre o amor, mas, muita sobre o desamor e a dor, quiçá na teoria do amor eu fosse versado, pois o poeta é assim, mas na pratica como já mencionei eu não o era, eu falava e escrevia sobre o dito amor com maestria e desenvoltura, mas ainda assim, não o tinha vivido, nunca tive um grande amor, um amor que faz até o mais grotesco dos homens um poeta proeminente, o amor tem esse poder de transformação e eu só queria experimentá-lo, não só na teoria, mas, na prática, na vivência. Deveras há momentos que ele causa muita dor, mas, o verdadeiro amor tudo supera, tudo suporta...

Alguns dias antes do fato que marcou de uma só vez a minha vida eu estava muito inspirado, havia escrito muitos versos, estava até um tanto piegas, isso me assustava um pouco, não entendia o porquê, mas, tinha uma intuição de que algo iria acontecer e que minha vida iria mudar em um arroubo, e não é que aconteceu!

Então retomando o relato do início antes de eu me apresentar, quando eu relatava que estava indo ao trabalho, naquele dia eu sair de casa bem cedo como de costume, fui em direção ao ponto de ônibus e ao chegar lá fiquei a esperar minha condução, deveras naquele dia o ônibus que eu costumava pegar atrasou-se muito e quando passou estava lotado, e eu não pude pegá-lo, esperei então o próximo com denodo, até que ele não demorou a passar, então quando ele chegou ao ponto eu embarquei, quando entrei só havia um lugar e era na quarta fileira de cadeiras, então ao chegar perto tive eu uma visão angelical, algo que eu pensava ser uma ínfima ilusão de minha mente, era ela! Sim era ela, era a donzela dos meus retrógrados sonhos, era a princesa de minhas quimeras, era a mulher que eu tanto esperava, era àquela que já amava há muito tempo, meu mundo entrou em colapso, fiquei imóvel por um instante, mas fui ao lugar vago e sentei-me ao lado dela. Então eu a olhei nos seus olhos, aqueles belos olhos que jamais ei de esquecê-los, tão singelos e simplórios, tão meigos, tão lindos... Ela então me olhou também, então um sorriso fez-se, que lindo sorriso, que lindo! Eu retribui com um sorriso de amor, um amor intrínseco em mim, não perdi o azo e comecei a confabular com ela, ela muito agradável respondia-me com gestos sublimes, então logo perguntei:

- Como te chamas linda?

Logo ela respondeu-me:

- Chamo-me Helena!

Helena, minha doce e linda Helena, Helena de minhas quimeras... Era o nome mais belo, vindo da voz mais bela que tinha o corpo mais belo envolto em uma alma tão bela...

Entre tantos colóquios que seguiram, ficamos decerto muito íntimos quase bons amigos, descobrir quase tudo sobre ela, morava próximo a minha residência, era solteira (como essa notícia me alegrou meu caro amigo), tinha então vinte e três anos de idade, era filha única, entre tantas outras cousas, então eu a convidei para sair comigo no final de semana conseguinte, ela aceitou o convite e então ali começava um grande romance quixotesco, conhecia eu a primeira e a última mulher que eu amaria em toda a minha vida...

Tudo começou com um atraso do ônibus que eu pegava, quiçá fosse somente uma vicissitude da vida ou um dos tantos reveses da existência, ou talvez um algo que já estivesse escrito mesmo antes de nós nascermos, um destino, destino talvez seja essa a palavra certa, só sei que um dia em um ônibus eu encontrei meu amor à pessoa com quem sempre sonhara a minha e somente minha princesa, ela que devolveu minha alegria e despertou meus devaneios adormecidos, hoje meus versos têm mais veracidade, pois eu os vivo de verdade, foi ela que me libertou do cárcere da melancolia, da dor do desamor, tudo isso aconteceu naquele dia em que em uma vicissitude eu a encontrei, essa é a minha história essa é a minha verdade utópica de um amor renascido...

 

Por Leandro Yossef (23/2/2013)