Mini conto / Confissões de um desventurado

29/03/2013 17:19

Confissões de um desventurado

(...) Eu era muito feliz, tinha tudo que um homem possa imaginar e querer, era eu uma pessoa venturosa com um coração alegre, hoje, porém, sou o mais triste e desventurado dos homens existentes, vivo agora sorumbático e soturno em meu canto, quiçá, um dia eu volte a sorrir, mas, hoje vivo a dor, dor de um amor perdido e pretérito, então vou contar-lhes minha ínfima história e no final quem sabe podereis dar-me razão, pois, os leitores meus caros amigos podem estar a se perguntar o porquê de tanta melancolia, prestem então muita atenção, por favor, ao meu relato, vou lhes contar tudo desde o início, sem mais delongas e circunlóquios contar-vos-ei minha história:

- Sou eu um parco romanesco, cujo, o nome eu quero manter em segredo.

Um dia eu conheci uma pessoa que marcou deveras a minha parca vida, quando eu a vi pela primeira vez a achei um tanto pernóstica, eu a via como uma pessoa que desprezava os outros com exacerbada jactância, mas, quando a paixão chega quase sempre não a controlamos (Costumo dizer caros leitores que a paixão é a patologia que mais mata em nossa sociedade, ela mata sonhos, quimeras, costumes, mata também a razão, pois a pessoa que a adquire vive sem razão, como os leitores irão compreender nos relatos conseguintes), foi o que aconteceu com esse que vos fala, lembro-me que certo dia um alguém me disse que a dita paixão era uma doença, uma espécie de transtorno emocional que nós não temos o controle sobre ela quando se instala sobre nossos sentidos, ela é tão potente que transforma o mais sábio dos homens em pacóvios desvairados, contou-me também que foi a paixão a causa da queda do grande rei Salomão, se até Salomão o mais sábios de todos os homens nascidos de mulher sucumbiu, imagine eu, deveras deveria eu ter tomado mais cuidado, mas, não tomei, hoje posso asseverar meus caros leitores que o citado acima tem procedência verídica e verossímil.

Desde então eu não parava de pensar naquela que conhecera, pensava em seu jeito, mas alguns amigos alvitraram-me de que ela não era uma boa pessoa e a sua fama não era das melhores, mas, mesmo assim eu não quis ouvi-los e prosseguir nessa parva quimera grotesca.

Eu lembro que naqueles dias estava eu ainda a cursar a faculdade, queria deixar um pequeno adendo sobre minha situação financeira, pois, ela é de suma importância neste relato, eu não sou desvalido de recursos, tenho até uma vida suntuosa, sou eu filho de pais com condição financeira muito boa. Mas, ela era filha de um magnata, um grande empresário que tem uma fortuna incalculável. Tínhamos nós algumas aulas juntos, mas, quase sempre não nos falávamos como eu já havia aludido anteriormente e os leitores podem recordar-se, ela era um tanto (ou melhor, “Dois tantos”) pernóstica sua jactância era exacerbada, a ponto de ela fazer distinção de quem poderia falar ou até ficar perto dela, mas, eu estava cego de paixão tão obtuso que não conseguia ver quem era ela de verdade, eu a via como uma pessoa maravilhosa, estava cego, como eu estava meus caros amigos...

Foi então em uma aula de uma determinada matéria que o professor falou para eu fazer dupla com ela, então meus caros, eu fiquei muito feliz, ela, no entanto, não gostou muito do fato de ter que fazer dupla comigo, mas, fazer o que, eu usei o azo para tentar criar um vínculo com ela, mas, o nosso colóquio foi mais um solilóquio de minha parte, deveras respondia ela ás vezes com monossílabos insulsos, então a aula teve seu fenecimento e ela foi-se sem dar um até logo, ou deixar um ínfimo sorriso. Passado muitos dias desde o fato aludido, ela começou a falar comigo, fiquei a princípio estupefato com o fato, porém, meu parco coração estava enamorado e não podia eu controla-lo, a cada dia mais ela se aproximava de mim, estávamos muito íntimos naqueles tempos, foi então que eu cometi talvez o maior erro da minha efêmera e fugaz vida, disse eu então para ela tudo que eu sentia, todo o amor que estava cá dentro, ela tinha então se separado de seu namorado, fazia pouco tempo, eu aproveitei-me deste fato para tentar conquistá-la, estava deveras muito enganado, como estava... Então eu tomei coragem e pedi-la em namoro, ela por sua vez disse-me sim, sim... Mas foi tão rápido e fácil esse sim que fiquei um tanto assustado, mas, estava eu cego, um pacóvio cego decerto. Então foi assim que começamos a namorar, nosso tão efêmero namoro, meus caros leitores, foram somente alguns poucos meses que esse dito “namoro” durou, ela deveras não gostava de ficar comigo na presença de seus proeminentes amigos, eu era sempre postergado, sempre preterido, mas eu vivia aquela quimera como se fosse um sonho realizado em minha vida, mas, pouco a pouco eu que era muito fleumático, passei a viver irrequieto, o ciúme, o desprezo, tudo estava me deixando louco, desvairado, já não aguentava mais aquilo tudo, aquela vida, mas eu estava muito apaixonado por ela, não podia eu perdê-la, deveras, tinha medo só de pensar em tal cousa. Até que um dia eu a vi em uma praça com o seu “ex-namorado” e ambos estavam trocando caricias e afinal ambos se beijaram, e o pior era que essa praça é na frente da nossa faculdade, todos viram, eu vexado aproximei-me de ambos e inquiri-los a respeito do que esta acontecendo, ela então me olhou com muito desdém e voltou a beija-lo em minha frente, eu agora já exasperado, compeli a responder-me com um tom mais imperativo.

- O que está acontecendo aqui!

Ela então me olhou novamente (nesse momento toda a faculdade estava a nos observar), ela começou a dizer-me impropérios que não ousarei mencioná-los aqui pelo respeito que devoto aos meus amados leitores, só direi uma palavra que ela falou a mim, essa palavra rasgou meu parco, ou melhor, meu parvo coração:

- Eu nunca gostei de você! Enxerga-se seu tolo!

Fiquei então ali aviltado com tamanho vitupério que meu mundo desabou, eu que gostara tanto dela e ela só queria usar-me para por ciúmes em seu ex-namorado, todos se riam de mim, poucos foram os amigos que ficaram ao meu lado, desde então eu larguei a faculdade, não saio mais de casa, vivo a reminiscência daquele dia, a todo instante, sofro muito deveras, por uma pessoa que nunca mereceu, deixo então o meu conselho caros leitores, antes de se apaixonarem pensem muito bem, é melhor viver uma dor momentânea por se eximir de uma pessoa que não merece seu amor a passar por tudo que passei, e viver a dor do desprezo e a pior de todas as dores a da traição...

Vou então encerrar esse meu relato com a dor que passou a estar inerente a minha pessoa, quem sabe um dia eu a supere, por enquanto vivo eu triste, mormente, por saber que um dia fui traído por uma paixão patológica...

 

Por Leandro Yossef (28/2/2013)