Mini conto / A última carta (Em memória às vítimas do Holocausto)

31/03/2013 16:00

A última carta (Em memória às vítimas do holocausto)

Olá, eu me chamo Yossi Shelomoh, tenho 15 anos de idade, Sou um jovem Judeu de origem Alemã, sou de uma família conservadora, vivíamos muito bem e felizes em nosso humilde lar, éramos uma família de dez pessoas, eu meus 5 irmãos 2 irmãs meu pai e minha mãe, tudo corria bem, como éramos felizes..., mas o partido Nazista Alemão ascendera ao poder, então tudo mudou, começaram a nos tratar como bichos, como escória da humanidade, hoje me encontro em um campo de concentração nazista, estou a esperar meu fim que não tardará, eu vi muitos dos meus irmãos morrerem por nada, somente por serem Judeus, e isso é motivo para tirar a vida de uma pessoa? Isso justifica tanta violência? O que fizemos? Qual é o nosso crime? Por que somos tão odiados por nossos irmãos Alemães, não somos nós também alemães? Eu não compreendo!

Vou agora relatar um pouco que pude contemplar, para minha grande tristeza, preferia ter morrido a ver tantas desgraças que meu povo tem sofrido como já mencionei tenho eu pouco tempo de vida, então tentarei ser breve, minha hora se aproxima...

Eu vivia feliz, eu era um estudante muito aplicado, tinha muitos amigos, eu e a minha família costumávamos ir à sinagoga, festejávamos, nunca fizemos mal a ninguém, eu tinha muitos sonhos, pensava em ser um grande cientista, um grande inventor, sonhava em inventar coisas para o bem de toda a humanidade, mas, em um dia terrível meus sonhos foram calados, os nazistas invadiram nosso vilarejo, eles incendiaram nossa sinagoga nossas casas, mataram nossos idosos, abusaram das nossas jovens, entre elas estavam minhas duas irmãs Rivka e Rachel, Rivka não aguentara aos abusos cometidos por esses monstros e acabara por falecer em meio ao sofrimento e o vitupério, minha outra irmã Rachel tentou ajudá-la e acabou tendo o mesmo fim que Rivka, minhas doces irmãs Rivka era a mais nova tinha então 12 anos, era a luz da nossa casa, era aquela que sempre trazia palavras sábias, mesmo sendo tão nova era muito sábia, eu fico triste, pois não pude ajudá-la, eu que prometera defendê-la, não pude ajudá-la, que pesar, Rachel tinha 18 anos, era muito formosa, era tão sábia quanto rivka, ela cuidara sempre de nós, tinha um futuro brilhante pela frente, mas, foi silenciada com um tiro no meio da cabeça, as imagens me atormentam a cada dia, foi terrível... foi terrível.

Lá estava eu sendo levado, e pude contemplar tudo e não pude fazer nada, que cobarde! Que cobarde eu fui... A imagem que eu vira era algo estarrecedor, chorei e ainda choro com a lembrança, enquanto estou escrevendo, dos meus olhos fluem copiosas lágrimas, eles destruíram tudo, nos trataram com animais sujos, como pode um ser humano ser tão insensível, eram uns monstros esses nazistas, eles não tinham um pingo de amor e consideração no coração, eles então nos separaram uns dos outros, levaram as mulheres para um lugar e os homens para o outro, foi então a última vez que eu vi a minha mãe, desde então não tive mais notícia dela, espero que ele esteja bem, mas, nenhum judeu em nossa época estão bem, que saudade da minha mãezinha, como eu a amo... Então ficamos eu e meus irmãos já que o meu pai fora assassinado, sob a alegação de que ele não era essencial, era ele um professor de literatura Alemã, nunca fizera mal a ninguém, sempre idôneo em seus deveres, um homem exemplar, foi cobardemente assassinado com um tiro certeiro que o calou de uma vez por toda, eu também vi meus irmãos de sangue ser levados para a câmara de gás e de lá nunca mais retornarem, e para lá em breve eu irei também, há quem diga que lá os Judeus são assassinados, eu não sei se é verdade o relato, mas, todos que vão para lá jamais voltam para contar a história, em breve eu saberei...

O trabalho aqui é forçado, trabalhamos e trabalhamos para os nazistas, não podemos descansar, os nossos sonhos esvaíram-se em meio a tantas dores e sofrimentos, até para eu escrever estes meus relatos tenho que ser cauteloso, pois, se me pegam escrevendo irei apanhar muito, se não me matarem, nos tratam como reles objetos sem valor, quanto às crianças que perderam suas infâncias, tudo por causa de um preconceito de um homem doente, se é que o posso chamar de homem, elas estão sendo dizimadas, eles as levam e depois não temos mais noticias, é o fim! O pior é que ninguém faz nada a nosso favor, eia alguns poucos judeus tentaram resistir mais acabaram sendo violentamente reprimidos, foram cruelmente assassinados para servirem de exemplos para quem tentasse se revoltar contra o poder dos nazistas. Todos os dias morremos um pouco, todos os dias vejo meus irmãos serem violentamente assassinados, sem piedade, somos espancados constantemente, agora eu terei de ir trabalhar, talvez eu volte para concluir este relato, mas, só D’us sabe se irei ou não sobreviver mais um dia...

Como eu dizia antes de ir, aqui às cousas estão muito difíceis, estou deveras muito cansado, extenuado com o labor, lembro-me vagamente dos tempos que éramos livres, tempos de liberdade, que nos tiraram de arroubo, mas, eu creio que Hashem nos restituirá a liberdade perdida, somos vítimas da crueldade, mas a justiça divina virá sobre estas pessoas cruéis. Ainda hoje eu vi um soldado nazista matar o meu melhor amigo, tinha ele 12 anos de idade, era um tanto delgado, sonhava como eu pela liberdade, sonhava... Somente sonhava, mas, ele não aguentara o labor, era demais para ele, ficou muito doente, sem força não pode trabalhar e então deixou de ser essencial, foi quando o monstro nazista entrou em nosso abrigo e na minha frente tirou a vida do jovem Shemuel chaim, na minha frente, ninguém pode imaginar a dor que senti e ainda sinto meu amigão, meu querido amigo... Não aguento mais tanto sofrimento, não aguento ver quem amo morrer, Ai... Ai..., Meu D’us por quê? Por quê?

Estamos no inverno e o frio é muito grande, esse é um dos piores invernos que pude eu viver, a nossas roupas são muito finas, não nos aquece, lembro-me de minha humilde cama, como eu era feliz, ah, como eu era... Muitos estão morrendo de frio, as doenças estão se proliferando entre nós, eu estou constipado com muita febre, muita dor no corpo, mas, tenho que trabalhar senão serei morto, deveras amanhã a minha dor ira extenuar, pois, será o dia de eu ir à câmara, finalmente chegou a minha vez, meu número chegou cada um de nós temos um número e esse número é a nossa identidade e é através dele que somos levados para a morte, então irei eu experimentar a famosa câmara de gás, é a minha vez, até que estou calmo, mesmo sabendo meu fim, para mim melhor é morrer que ver mais gente sendo mortas, eu não aguento mais esse sofrimento, vou para junto dos meus irmãos, eu ouvi um boato que eles usam um gás tóxico que antes de matar as vítimas ele causa muita náusea e uma disenteria terrível, algo dantesco, alguns químicos que partilham dos nossos sofrimentos por serem eles Judeus, dizem que é uma morte horripilante, mas não tenho medo, passei toda a noite acordado, rezei ao meu D’us, o Eterno, o Soberano, pedi em favor dos meus irmãos, orei por dias melhores...

Já está amanhecendo, tenho de ir, antes recitarei o Shemá, quiçá, seja essa a última vez que o recitarei, esse e o meu destino, eu vou como milhares de meus irmãos foram hoje choramos a desgraça, mas, amanhã será um novo dia, seremos livres eu sei, eu tenho fé, espero que a humanidade aprenda com o nosso exemplo, espero que os homens parem de se odiarem mutuamente, espero que o preconceito e a discriminação não tenha mais tanto poder como o tem nesse dado momento, eu irei morrer, mas, deixo meu apelo em nome dos milhares de Judeus, de jovens como eu, de crianças que perderam a chance de serem alguém na vida, que tiveram a infância e os sonhos obliterados por motivos banais, quantos cientistas, físicos, inventores, artistas, escritores, pintores, professores, músicos, foram calados, quem perdeu foi o mundo foram às futuras gerações, também os idosos, em nome de todas as vítimas da besta nazista, eu peço que todos os que leem este meu relato se lembrem de nós que sofremos e padecemos vítimas da crueldade, ensinem as futuras gerações a amarem a seu próximo, a não julgarem as pessoas por suas crenças ou convicções, gostaria de escrever mais, mas, tenho de ir, chegou a minha hora, Shalom Aleichem. Ani ma'amin, Be'emuna shelema...

 

Yossi Shelomoh, Inverno de 1942 Alemanha.

 

A segunda guerra teve seu fenecimento no dia 2 de Setembro do ano de 1945.

 

Total de mortos:

País    Militares       Civis   Total

França           350.000       350.000       700.000

Inglaterra     326.000       62.000          388000

EUA    300.000       350.000       300.000

URSS  6.500.000    10.000.000 16.500.000*

Polônia         -          5.000.000    700.000

Iugoslávia     -          1.000.000    700.000

Alemanha    3.500.000    700.000       4.200.000

Itália   330.000       80.000          410.000

 

(*) As baixas da URSS apresentam variações: ELLENSTEIN apresenta 25 milhões e meio, WERTH, Alexandre calcula em 20 milhões; as autoridades soviéticas computam geralmente apenas as baixas militares entre 6 e 7 milhões de mortos.

Fonte: PARKER, R. A. C. Europa no Século XX, pág. 404.

 

Número de Judeus mortos:

Cerca de 6 milhões, dos quais cerca de 1 milhão era de crianças.

Fonte: Wikipédia.

 

Em 1947, a ONU aprovou o plano de Partilha da Palestina. Com isso, o território palestino foi dividido em dois Estados, um judeu e outro árabe. Em maio de 1948, a criação do Estado de Israel foi oficialmente instituída.

 

Diga não a discriminação, Holocausto nunca mais!

 

Por Leandro Yossef o Judeu em 30 de março do ano de 2013.